Minha mãe me falava que quando eu era mais nova as pessoas perguntavam pra ela desde quando eu era estranha desse jeito. Ela respondia: "Ah, ela sempre foi esquisita assim..."
É bom ser estranha, diferente. Bom, eu fico dividida, se gostaria de ser comum ou não. Mas acho que isso demandaria muito esforço pessoal, porque é de pequenino que se torce o pepino, e eu já não sou pequenina a muito, muito tempo mesmo.
No geral meu gosto pessoal é tosco, e eu gosto de coisas estranhas e grotescas. Claro que eu também gosto de coisas engraçadinhas e fofinhas, mas até uma coisa engraçadinha pode ter um nariz quebrado, ou um pouco de sangue escorrendo...
Eu gosto de caqras esquisitos e tatuados, tipo mais ou menos o Adriano, o filho do Ernesto, mas não exatamente como ele, apesar de que ele chega bem perto... Talvez se ele fosse um pouco mais.... torto...
Não gosto muito de me envolver com pessoas ultra otimistas e sorridentes, porque elas me irritam horrores. Vivo trancada em casa, não atendo o tel nem a porta, tenho medo de ficar na rua, escuto musicas estranhas, me visto de um jeito esquisito, gosto de coisas fora do comum, e tenho uma afinidade com dor e sangue. Me descrevendo sucintamente, é isso ai... Mas ao mesmo tempo, não é nem um terço disso...
É difícil ser diferente de quase tudo o que se conhece, e ter que conviver com pessoas "normais", e ter que explicar isso tudo. Explicar que eu quero piercing no mamilo, curto caras que gostam de apanhar, ando na rua imaginando em como seria arrebentar a cabeça das pessoas com um taco de baseball, assim, de surpresa.
Como um amigo meu reagiria me vendo agredi-lo? Como eu reagiria se alguem me agredisse? Será que dá uma sensação de poder matar alguem? Será que depois de matar, a sensação é como uma droga? Sempre se quer mais? Eu conheço pessoas que mataram, e elas são tão comuns em certos detalhes, mas todas são geniais... Ao mesmo tempo todo mundo sabe que pra matar alguem basta ter uma mínima vontade. Acho que eu é que dei sorte de conhecer assassinos legais então!
Quando eu era criança, implorei pra um tio meu me dar o livro da Christiane F. Eu tinha 9 anos, e era estranha, muito estranha. Tinha idéias esquisitas na cabeça, e quando li o livro.... Fiquei louca! Eu queria ser ela! Queria viver como ela!!! Claro que uns 2 anos depois eu já tava cheirando voláteis, tomando anfetaminas roubadas da minha mãe... As coisas começaram assim. Uma menina estranha com vontades estranhas, e então, 20 anos depois, me vejo eu em principio de overdose no hospital, e tendo que mudar tudo, e parar com tudo.
Ser careta é uma coisa muito doida. E eu, que até então nao tinha ficado quase nenhum dia da minha vida de cara, tive que aprender a viver como gente normal, sem drogas. E foi muito chato pra falar a verdade...
Ainda hoje eu não creio que as pessoas possam viver sem nenhum entorpecente na cabeça. É difícil, a vida é chata! Não dá um tesão de viver assim, de cara!
Largar o crack foi difícil, mas mais difícil ainda foi ver como era a vida sem nada daquilo na cabeça.
Eu ainda sou estranha... Ainda gosto de coisas incomuns, pouco usuais... Mas a vida é louca mano!, muito mais do que eu consigo suportar! E agora? O que acontece com a gente quando tudo parece ter perdido uma certa graça?