Hoje eu conversei longamente com o Arnaldo. Uma conversa estranha e triste. Acho que cheia de rancor do que nosso passado foi e do que poderia ter sido. Engraçado é que eu nunca tinha parado pra conversar com ele, em muito tempo. Tal era o medo, a angustia de lembrar daqueles dias de antes.
Eu não gosto de ter que encontrar com as pessoas daquela época. Não gosto muito de saber deles. Queria mesmo poder esquecer.
Conversamos sobre como nossa infância nos afetou de modo irremediável, nos transformando no que somos hoje. O Arnaldo me conheceu quase na infância. 14 anos? Isso seria infância? Sabe o mais incrível? Descobrir que as pessoas tem tanto medo quanto eu. O tempo todo me sentindo anormal pelo meu medo, e descubro que na verdade a gente foi largado muito novo, pra lá, pra não ter medo. Com muita mágoa relembramos de coisas que aconteceram, e nos perguntamos porque tudo foi daquele jeito, e nos demos conta de que deveríamos mesmo ter nos encontrado, ele, a Carmen e eu, pra vivermos numa época doida e triste, porque nós éramos sozinhos e tristes, deixados de lado, e tentando sobreviver àquelas famílias e mães que me parece, queriam se livrar de nós, mas não apenas de nossa presença, elas queriam dobrar nosso espírito... Um pouco dramático? Talvez. Mas nunca é dramático demais pra quem vive a situação, ainda mais como nós, que simplesmente não tínhamos forças ou defesas pra lutar contra aquilo tudo. E agora me pergunto porque exatamente tivemos que passar por aquilo tudo mesmo? Pra provar o que mesmo? Pra nos prepararmos pra esse agora? Pra esse presente que nos tira todo dia alguma coisa, e que vai minando nossa capacidade de acreditar que de fato nós fomos preparados pra algo, ou uma missão, ou algum propósito, porque sem propósito, tudo fica simplesmente insuportável!!!! É só isso? É pra isso que nós nos agarramos desse jeito as nossas esperanças de que as coisas iam mudar, e melhorar, e sorrir pra gente?
A gente era tão tão triste.... A gente era tão tão perdido... Porque a gente teve que sobreviver aquilo tudo e a custa de que??? Eu lembro das tardes intermináveis com a Carmen, que já foi a pessoa que eu mais amei no mundo numa certa época, numa amizade inimaginável pra duas pessoas tão sozinhas quanto nós. E a vida se encarregou de nos tirar da rota e nos separar até virarmos tão estranhas. Lembro dos momentos com o Arnaldo, das conversas, e das tentativas de filosofia incompreensível, porque a gente tinha tanto o que entender.... A gente tinha tanto que fazer alguma diferença, nem que fosse um para o outro, e meu Deus, ele fez mesmo diferença, não fez? Numa época em que era tudo ou nada, e a gente precisava ter uma mão pra segurar nos longos momentos de tristeza, de solidão. De tentar entender. A gente fez diferença não fez???? Fizemos, não fizemos??? Depois de tanto tempo, eu, eu pelo menos, pelo menos eu tenho que acreditar que fiz alguma diferença, e meu Deus, eu era tão, tão triste!!! Eu queria tanto alguma coisa que fizesse diferença pra mim!!!!
Eu acho que devia perguntar para o Arnaldo se eu fiz diferença pra ele, algum dia que fosse, que o tivesse resgatado um pouco daquilo tudo!!!!
Eu não quero ter medo... Nunca! Nunca quero ter medo... Nunca!!! Eu juro! Mas como se livrar, se eu já passei tanto tempo parada, assustada. Eu faço mal pra mim não é mesmo? Se eu as vezes acerto alguem, na maioria das vezes não é intencional. Nem sempre se pode controlar tudo... O maior mal, de todos, de todos os que eu causo, são pra mim mesma...
Se eu conseguisse forças agora, eu gostaria de lutar contra anos e anos de pensamentos, e idéias, e lembranças de tudo aquilo que acontecia dentro daquelas paredes, e que a gente aguentava sozinho, no canto, calado e com medo. Se eu tivesse alguma coragem, iria confrontar anos e anos de coisas erradas herdadas das coisas erradas que fizeram pra mim, e tentar nesse resto de tempo acertar tudo, fazer tudo certo daqui pra frente e perdoar quem ficou pra trás, me perdoar, perdoar o mundo e acabar com tanto tempo de medo e mágoa. Solidão e insegurança. Mas agora não tem mais Carmen e Arnaldo pra segurar minha mão e me puxar, e eu puxar também. Não tem mais ninguem me flagelando e me empurrando de qualquer maneira pra frente.
Eu não gosto de ter que encontrar com as pessoas daquela época. Não gosto muito de saber deles. Queria mesmo poder esquecer.
Conversamos sobre como nossa infância nos afetou de modo irremediável, nos transformando no que somos hoje. O Arnaldo me conheceu quase na infância. 14 anos? Isso seria infância? Sabe o mais incrível? Descobrir que as pessoas tem tanto medo quanto eu. O tempo todo me sentindo anormal pelo meu medo, e descubro que na verdade a gente foi largado muito novo, pra lá, pra não ter medo. Com muita mágoa relembramos de coisas que aconteceram, e nos perguntamos porque tudo foi daquele jeito, e nos demos conta de que deveríamos mesmo ter nos encontrado, ele, a Carmen e eu, pra vivermos numa época doida e triste, porque nós éramos sozinhos e tristes, deixados de lado, e tentando sobreviver àquelas famílias e mães que me parece, queriam se livrar de nós, mas não apenas de nossa presença, elas queriam dobrar nosso espírito... Um pouco dramático? Talvez. Mas nunca é dramático demais pra quem vive a situação, ainda mais como nós, que simplesmente não tínhamos forças ou defesas pra lutar contra aquilo tudo. E agora me pergunto porque exatamente tivemos que passar por aquilo tudo mesmo? Pra provar o que mesmo? Pra nos prepararmos pra esse agora? Pra esse presente que nos tira todo dia alguma coisa, e que vai minando nossa capacidade de acreditar que de fato nós fomos preparados pra algo, ou uma missão, ou algum propósito, porque sem propósito, tudo fica simplesmente insuportável!!!! É só isso? É pra isso que nós nos agarramos desse jeito as nossas esperanças de que as coisas iam mudar, e melhorar, e sorrir pra gente?
A gente era tão tão triste.... A gente era tão tão perdido... Porque a gente teve que sobreviver aquilo tudo e a custa de que??? Eu lembro das tardes intermináveis com a Carmen, que já foi a pessoa que eu mais amei no mundo numa certa época, numa amizade inimaginável pra duas pessoas tão sozinhas quanto nós. E a vida se encarregou de nos tirar da rota e nos separar até virarmos tão estranhas. Lembro dos momentos com o Arnaldo, das conversas, e das tentativas de filosofia incompreensível, porque a gente tinha tanto o que entender.... A gente tinha tanto que fazer alguma diferença, nem que fosse um para o outro, e meu Deus, ele fez mesmo diferença, não fez? Numa época em que era tudo ou nada, e a gente precisava ter uma mão pra segurar nos longos momentos de tristeza, de solidão. De tentar entender. A gente fez diferença não fez???? Fizemos, não fizemos??? Depois de tanto tempo, eu, eu pelo menos, pelo menos eu tenho que acreditar que fiz alguma diferença, e meu Deus, eu era tão, tão triste!!! Eu queria tanto alguma coisa que fizesse diferença pra mim!!!!
Eu acho que devia perguntar para o Arnaldo se eu fiz diferença pra ele, algum dia que fosse, que o tivesse resgatado um pouco daquilo tudo!!!!
Eu não quero ter medo... Nunca! Nunca quero ter medo... Nunca!!! Eu juro! Mas como se livrar, se eu já passei tanto tempo parada, assustada. Eu faço mal pra mim não é mesmo? Se eu as vezes acerto alguem, na maioria das vezes não é intencional. Nem sempre se pode controlar tudo... O maior mal, de todos, de todos os que eu causo, são pra mim mesma...
Se eu conseguisse forças agora, eu gostaria de lutar contra anos e anos de pensamentos, e idéias, e lembranças de tudo aquilo que acontecia dentro daquelas paredes, e que a gente aguentava sozinho, no canto, calado e com medo. Se eu tivesse alguma coragem, iria confrontar anos e anos de coisas erradas herdadas das coisas erradas que fizeram pra mim, e tentar nesse resto de tempo acertar tudo, fazer tudo certo daqui pra frente e perdoar quem ficou pra trás, me perdoar, perdoar o mundo e acabar com tanto tempo de medo e mágoa. Solidão e insegurança. Mas agora não tem mais Carmen e Arnaldo pra segurar minha mão e me puxar, e eu puxar também. Não tem mais ninguem me flagelando e me empurrando de qualquer maneira pra frente.
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