Ontem foi meu
aniversário. Depois de certa idade é sempre uma tensão fazer aniversário. Pra
uma mulher é complexo ficar mais velha, e claro, pra mim também. Talvez eu
fique com aquela sensação estranha de que eu deveria ter feito tudo muito
diferente. Eu deveria ter levado a minha vida, e a mim mesma mais a sério, e
agora é tarde pra reagir. Sem aquelas conversinhas de que nunca é tarde, e bla,
bla, bla. É tarde!
Perdi anos em coisas
que jamais me trouxeram nada, e eu sei hoje em dia que eu poderia ter tido
tudo. A parte da loucura, e a parte da sanidade, que mudariam minha vida pra
melhor! Eu não precisava ter escolhido só uma coisa, e deixado isso me guiar.
Pra mim é uma
dificuldade colocar cada coisa no seu devido lugar! De verdade! Foco,
concentração, direção, são luxos dos quais eu não disponho desde sempre, mas
confesso que depois de uma vida de todo tipo de abusos, eu piorei muito. Hoje
em dia é uma piada a maneira como a minha mente vagueia por tudo, sem conseguir
se fixar em nada por muito tempo.
Tenho raiva de
perceber como é difícil pra mim, fazer coisas muito simples, como resolver meus
recalques pessoais, simplesmente porque eu acabo me desviando, e quando eu
consigo retornar para aquele momento da vida, o tempo simplesmente passou e eu não
fiz nada.
Eu sou a dona da minha
vida. Eu faço as coisas acontecerem pra mim. Posso mudar meu destino, só que
não. Muito do que eu quero, ou quis, deixou de ser opção pessoal, pra virar
falta de opção, porque eu não tenho força suficiente pra mudar mais nada, não
tenho pulso pra tomar as rédeas, e estou cansada de estar frustrada.
Quando é que eu vou
conseguir deixar de estar triste o tempo todo? Quando isso vai deixar de ser a
única realidade que eu conheço, pra se tornar um passado remoto, e uma lição em
forma de lembrança? Porque agora, quando eu olho pra tudo que deveria mudar em
relação ao que me cerca, e a minha atitude em relação a mim mesma, eu só sinto
que o tempo já passou, e que o esforço não vale à pena. Eu queria mesmo era me
enrolar num quarto escuro e frio abraçada com a Dolores, e esquecer todo o
resto. Ficar só ali na minha zona de conforto, sem ter que me envolver em mais
nada que seja do mundo, esperando o tempo passar, e se eu for pensar bem, é
muito triste que tudo esteja acabando assim.
Eu sorrio muito mais
hoje em dia. É uma maneira de evitar os confrontos, porque acho que cansei
bastante de explicar como as coisas têm funcionado ultimamente. Nunca nada está
bem, mas ao mesmo tempo, tudo está bem, pra que eu não tenha que explicar de
novo e de novo que eu não tenho mais força ou vontade de seguir em frente. Eu
só queria ficar em paz, esquecer. Esquecer muita coisa mesmo. Esquecer toda aquela
merda de família, e esquecer tudo o que eu já ouvi com a falta de sensibilidade
das pessoas, e tudo que é capaz de acontecer no mundo, que é uma grande
agressão pra mim! O mundo é um lugar hostil demais pra eu viver nele! Eu não
tinha que estar passando por isso, porque minhas defesas não me preparam pra
todos os golpes que eu recebo todo dia, e todo dia, e de novo, de novo, e de
novo... Eu sempre falo que sou dura, e aguento o que vier, mas não sei. Talvez
eu esteja amolecendo e cansando mais e mais.
Uma vez meu amigo
Fogueirinha me falou que eu sentia tudo o que estava no mundo. Minha
misantropia não me afasta dos sentimentos que eu tenho em relação a um mundo
que eu não consigo entender, não consigo lidar, das pessoas com quem eu não
consigo conviver e conversar. Não me protege dos golpes que eu recebo de cada
coisa que eu vejo, e de cada palavra agressiva que me dizem, mas eu continuo
sorrindo e fingindo que está tudo bem, porque eu sou forte e aguento. Mas agora
parece que não aguento tão bem.
Eu não sei o que
fazer, e não tenho onde me escorar, e de fato, sendo realista, estou cansada
dessa frustração e insatisfação eterna. Cansada da falta de opção que minha
cabeça me dá como escape de tudo o que eu não entendo, e minhas opções estão
acabando. Antes parece que existia um mundo vasto onde eu podia me esconder e
estar segura, bem aqui dentro, e era só escapar pra lá e tudo voltaria a ficar no
seu lugar, mas agora eu percebo que ter escapado tanto e tantas vezes me tirou
o foco do real, e que vida real sobrevive sem realidade?
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