24 novembro 2008

SOBRE O SEXO
Eu não gosto de sexo. Na verdade nunca gostei. Não gostei nem mesmo nos melhores momentos, ou quando deram tudo de si por mim. Quando eu comecei foi pela experiência inesperada de ter tanto contato com alguém estranho, e desde o início a curiosidade levou a melhor, e eu percebi também que o sexo poderia ser uma boa moeda de troca.
Eu não acho errado fazer sexo. Só acho incrivelmente chato e não entendo que as pessoas gostem tanto!!
Se eu não posso ganhar o troféu de Deusa do Sexo, a de melhor atriz com certeza eu ganho. Não posso dizer que a culpa é dos parceiros, pois na maioria, eles bem que se esforçavam. Esforçavam-se muito até! Com o tempo aprendi a distinguir os melhores dos piores, mas sinceramente, não foi nunca uma questão de o parceiro ser bom ou mau. Sempre foi o fato de eu não achar graça em nada disso.
Ninguém pode dizer que eu não tenho coração. É que ele não bate da maneira como o da maioria!
Ao fingir que amava a incompreensível arte de fazer sexo, era apenas pra agradar o par. Não custa nada fazer as pessoas felizes. Eu de fato posso dizer que fiz várias, pelo menos nas ocasiões em que estava disposta a atuar.
Quanto ao ato em si, é uma grande violência. Totalmente desgusting! Tantos fluidos e bocas e situações nojentas! É uma grande humilhação que a raça humana precise se aliviar dessa maneira horrível. O ato sexual é a vitória dos instintos primitivos sobre o intelecto, mas claro, essa é a MINHA opinião...
Isso não significa que eu tenha odiado todas as vezes. De fato me diverti em algumas e posso dizer que gostei de outras, mas não sei dizer se gostei da maneira apropriada ou não. Quando gostei, não foi pelo lindo sentimento envolvido no ato, ou pelas ondas de prazer que me tomaram no momento, ou pelo gozo que nunca chegou.
É que a mecânica de tudo isso é totalmente fascinante! O início, a troca, a técnica, o ato, e depois, a felicidade estampada. As reações finais são ótimas também! A parte boa do sexo é que estar tão perto de uma pessoa nessa hora torna possível a observação in loco! Se não fosse por isso, por esses momentos mágicos de observação, seria impossível alcançar a perfeição na imitação.
Não por maldade, sério mesmo. Aqui tenho que fazer um mea culpa... Eu fingi todas, todas as vezes, mas com a melhor das intenções... Não se trata de ser bem comida, ou não ser. Trata-se de eu não gostar do ato. E todas as vezes em que cheguei a achar que poderia mesmo suportar, tinham outras coisas envolvidas ali. Não sentimento, nem toque, ou química. Era outra coisa.
Eu sinto demais. Ninguém pode me chamar de insensível. Não tenho problemas em sentir coisas. Muito pelo contrário! Gosto de situações bizarras onde eu possa sentir, acompanhar e entender os sentimentos das pessoas. Me colocar no lugar delas até me sentir como elas, sentir o que elas sentem.
Eu sou depressiva desde que me entendo por gente. Acredito que depressão também pode ser traduzida como “sentimentos a flor da pele”. Viver é uma grande agressão pra mim, pois envolve uma loucura de sentimentos gigantescos, e tristezas sobrenaturais e sem fim, não apenas minhas, mas de todas as pessoas à volta, e eu trago isso tudo que é dos outros pra casa, pra minha solidão, pra poder sentir isso aqui, sozinha, e viver um pouco aquelas coisas. Louco não? Tirando alguns momentos em que sofrer se torna insustentável, na maioria do tempo creio que aprendi a disfarçar muito bem o que sinto, ou quase... Acho que posso aparentar frieza frente a quase qualquer situação, mas se alguém quiser saber um segredo, nessas horas, eu abro muito os olhos. É como um registro numa fonte. É possível diminuir o fluxo, fechar, deixar correr. É totalmente possível se enquadrar.
Eu sofro com as dores alheias, as levo comigo, guardo no fundo, junto com as minhas. Misturo, recrio, observo, e posso sentir junto das pessoas a dor que elas sentem, quase tão bem quanto sinto as minhas. E eu sinto! Eu sinto cada coisa, e mudança e penso, e quanto mais eu penso, mais eu sinto, e parece que menos entendo o sentimento...
Isso me leva de volta ao sexo. Não é que eu não sinto nada. É que eu sinto errado. O que eu sinto não é bom. É quase como tomar um remédio amargo. É ruim, mas se não tiver outra alternativa eu posso agüentar.

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