Ontem minha irmã me disse uma coisa que nem em mil anos eu esperava escutar. "Você ficou igualzinha a nossa mãe". Essa doeu heim Márcia... Ser igualzinha a minha mãe não é e nunca vai poder ser considerado um elogio. Difícil lidar com o fato de que a memória de uma pessoa que se foi seja sempre vista pelo lado negativo, ainda mais quando ela é a sua mãe, mas infelizmente é assim que é. Minha mãe foi o meu terror de infância, adolescência, vida adulta. Nunca foi minha amiga, e provavelmente nunca foi amiga de ninguém. Era dura demais, difícil demais. Arrogante, cabeça dura. As pessoas não gostavam dela. Poucas pessoas gostaram dela de verdade, eu acho, e não posso dizer que eu tenha sido uma delas, pelo menos durante a maior parte da minha vida. Acho que só aprendi a realmente apreciar ela quando ela se foi. Seu jeito de ser era tão difícil de conviver, que suas qualidades sempre ficaram apagadas pelos defeitos. E o pior é que a maioria dos defeitos não machucava a ninguém mais além dela mesmo, e de mim e minha irmã, porque ficávamos naquela unidade, aquele apego exagerado, de medo de sermos sozinhas. Ela foi sozinha ainda assim, ainda que tenha tentado na maior parte da vida nos agregar a vida dela. Minha irmã foi forte, ela saiu antes. Eu não tive nem tempo. Quando vi, ela já tinha morrido, e me deixado pelo meio do caminho, sem saber bem como sobreviver no mundo, porque a única coisa que eu sabia do mundo era ela. Só soube viver com ela a maior parte do tempo, e é assim até hoje.
Encarando a realidade de frente, sou uma pessoa um tanto sozinha, sem família ou amigos. Não tenho um circulo social, e se um dia tiver que me aposentar, provavelmente nunca mais sairei de casa, porque simplesmente não tenho aonde ir. Quando tento fazer algo interessante, esbarro não apenas na minha localização física, mas principalmente na minha localização ‘espiritual’ que me coloca a anos luz de distância das pessoas. Não consigo me relacionar. Não sou uma pessoa amada, sou dura demais, pouco eficiente emocionalmente, sou arrogante. Sou a minha mãe. Eu sou o que sobrou dela nesse mundo. A vida pra mim está sendo como foi pra ela, e talvez eu ainda deva agradecer por não ter uma família do meu lado, que possa sofrer tanto quanto ela nos fez sofrer.
Sabe o que eu respondi pra minha irmã? Agora eu entendo melhor rela. É sim. Agora eu entendo ela, como nunca consegui entender antes. O desespero que deve ter sido estar sozinha no mundo com tantas responsabilidades. Se ver sem família, e sem a compreensão dos irmãos. Ver a distância entre ela e o mundo crescendo, e com o tempo, a saúde indo embora, a mente se esvaindo. Ela deu sorte de ter a mim e a Márcia por perto. Como será que vai ser comigo?
Ela sofreu bastante no fim eu acho. Talvez pagando um pouco o mal que ela fez, ainda que sem pensar, sem querer. Ainda que ela quisesse sempre o melhor. Pra mim foi um mal. Minha mãe tolheu qualquer possibilidade de aproximação, de felicidade, ou de normalidade na minha vida. Não apenas ela, claro, mas ela me fez entender, desde criança, que nada disso seria pra mim. As coisas que ela me dizia... Cada coisa que ela me dizia... Se um dia eu conseguisse repetir, encarar... Algumas daquelas coisas nunca deveriam ser ditas a um ser humano. Jamais deveriam ser ditas pra uma criança. Jamais pra um filho, amado ou não.
Não guardo rancor. Não dela. Às vezes um pouco da vida em si. Como diz o Adriano, life’s a bitch. Às vezes me sinto tão triste com tudo o que me levou até aqui, e me prendeu. Agora estou presa aqui, não importa o quanto as pessoas apontem as saídas, meus olhos não podem ver. Talvez porque elas não possam ver também como as coisas são aqui dentro.
Foi uma coisa dura de ouvir num sábado triste a noite Márcia. Essa é uma daquelas coisas que jamais deveriam ser ditas pra uma pessoa. Jamais pra uma irmã...
Encarando a realidade de frente, sou uma pessoa um tanto sozinha, sem família ou amigos. Não tenho um circulo social, e se um dia tiver que me aposentar, provavelmente nunca mais sairei de casa, porque simplesmente não tenho aonde ir. Quando tento fazer algo interessante, esbarro não apenas na minha localização física, mas principalmente na minha localização ‘espiritual’ que me coloca a anos luz de distância das pessoas. Não consigo me relacionar. Não sou uma pessoa amada, sou dura demais, pouco eficiente emocionalmente, sou arrogante. Sou a minha mãe. Eu sou o que sobrou dela nesse mundo. A vida pra mim está sendo como foi pra ela, e talvez eu ainda deva agradecer por não ter uma família do meu lado, que possa sofrer tanto quanto ela nos fez sofrer.
Sabe o que eu respondi pra minha irmã? Agora eu entendo melhor rela. É sim. Agora eu entendo ela, como nunca consegui entender antes. O desespero que deve ter sido estar sozinha no mundo com tantas responsabilidades. Se ver sem família, e sem a compreensão dos irmãos. Ver a distância entre ela e o mundo crescendo, e com o tempo, a saúde indo embora, a mente se esvaindo. Ela deu sorte de ter a mim e a Márcia por perto. Como será que vai ser comigo?
Ela sofreu bastante no fim eu acho. Talvez pagando um pouco o mal que ela fez, ainda que sem pensar, sem querer. Ainda que ela quisesse sempre o melhor. Pra mim foi um mal. Minha mãe tolheu qualquer possibilidade de aproximação, de felicidade, ou de normalidade na minha vida. Não apenas ela, claro, mas ela me fez entender, desde criança, que nada disso seria pra mim. As coisas que ela me dizia... Cada coisa que ela me dizia... Se um dia eu conseguisse repetir, encarar... Algumas daquelas coisas nunca deveriam ser ditas a um ser humano. Jamais deveriam ser ditas pra uma criança. Jamais pra um filho, amado ou não.
Não guardo rancor. Não dela. Às vezes um pouco da vida em si. Como diz o Adriano, life’s a bitch. Às vezes me sinto tão triste com tudo o que me levou até aqui, e me prendeu. Agora estou presa aqui, não importa o quanto as pessoas apontem as saídas, meus olhos não podem ver. Talvez porque elas não possam ver também como as coisas são aqui dentro.
Foi uma coisa dura de ouvir num sábado triste a noite Márcia. Essa é uma daquelas coisas que jamais deveriam ser ditas pra uma pessoa. Jamais pra uma irmã...
4 comentários:
Adorei seu blog...vc se expressa mto!
=] Obrigada!
Devorando teu blog aos poucos. Muito bom os textos que você escreve.
Estarei te visitando sempre.
Grande Abraço
Sir Lucyus Ghostwish
=D
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