11 abril 2009

Eu tive inveja quando era quase criança, de ver as coisas simples que as pessoas normais faziam e eu não podia. Nunca pude. Nunca soube porque. Nunca adivinhei porque as coisas normais do dia a dia dos homens resvalavam em mim. As coisas que davam a felicidade simples não me alcançaram naquela época, e até hoje ainda não sei dizer. Eu não tive aquelas coisas.
Quando eu ouço as experiências alheias de infâncias boas e simples, percebo que as minhas não são contáveis. Os meus sentimentos estranhos não serviam de exemplo de vida feliz, porque eu não tive parâmetro de vida feliz. O que eu tive me distanciou de tudo o que poderia ser considerado felicidade, ou alegria, ou sorriso despreocupado.
Eu nunca soube o porque.
Engraçado que a infância deixe essas marcas na gente. Essas que não saem nunca mais. Não são laváveis, curáveis, não podem ser deletadas. Mas elas podem bem ser escondidas.
Quando vejo os horrores que os seres humanos são capazes, penso logo no caminho tortuoso que levou até ali. Deve ter tido um caminho. Uma estrada torta. Estrada estranha. Estrada e estranha são palavras que combinam.
O que pode ter levado cada um a chegar no ponto de ser considerado um animal, uma besta? A estrada estranha de cada um não serve de desculpa. Não deve ser comentada nessas horas. O ser humano tem que se adaptar. A gente tem que aprender a superar e a conviver.
Temos que aprender a esconder essas marcas que doem a vida toda. O tempo não apaga nem melhora. Só aprofunda. Faz doer mais.

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