14 janeiro 2013



Ontem foi meu aniversário. Depois de certa idade é sempre uma tensão fazer aniversário. Pra uma mulher é complexo ficar mais velha, e claro, pra mim também. Talvez eu fique com aquela sensação estranha de que eu deveria ter feito tudo muito diferente. Eu deveria ter levado a minha vida, e a mim mesma mais a sério, e agora é tarde pra reagir. Sem aquelas conversinhas de que nunca é tarde, e bla, bla, bla. É tarde!
Perdi anos em coisas que jamais me trouxeram nada, e eu sei hoje em dia que eu poderia ter tido tudo. A parte da loucura, e a parte da sanidade, que mudariam minha vida pra melhor! Eu não precisava ter escolhido só uma coisa, e deixado isso me guiar.
Pra mim é uma dificuldade colocar cada coisa no seu devido lugar! De verdade! Foco, concentração, direção, são luxos dos quais eu não disponho desde sempre, mas confesso que depois de uma vida de todo tipo de abusos, eu piorei muito. Hoje em dia é uma piada a maneira como a minha mente vagueia por tudo, sem conseguir se fixar em nada por muito tempo.
Tenho raiva de perceber como é difícil pra mim, fazer coisas muito simples, como resolver meus recalques pessoais, simplesmente porque eu acabo me desviando, e quando eu consigo retornar para aquele momento da vida, o tempo simplesmente passou e eu não fiz nada.
Eu sou a dona da minha vida. Eu faço as coisas acontecerem pra mim. Posso mudar meu destino, só que não. Muito do que eu quero, ou quis, deixou de ser opção pessoal, pra virar falta de opção, porque eu não tenho força suficiente pra mudar mais nada, não tenho pulso pra tomar as rédeas, e estou cansada de estar frustrada.
Quando é que eu vou conseguir deixar de estar triste o tempo todo? Quando isso vai deixar de ser a única realidade que eu conheço, pra se tornar um passado remoto, e uma lição em forma de lembrança? Porque agora, quando eu olho pra tudo que deveria mudar em relação ao que me cerca, e a minha atitude em relação a mim mesma, eu só sinto que o tempo já passou, e que o esforço não vale à pena. Eu queria mesmo era me enrolar num quarto escuro e frio abraçada com a Dolores, e esquecer todo o resto. Ficar só ali na minha zona de conforto, sem ter que me envolver em mais nada que seja do mundo, esperando o tempo passar, e se eu for pensar bem, é muito triste que tudo esteja acabando assim.
Eu sorrio muito mais hoje em dia. É uma maneira de evitar os confrontos, porque acho que cansei bastante de explicar como as coisas têm funcionado ultimamente. Nunca nada está bem, mas ao mesmo tempo, tudo está bem, pra que eu não tenha que explicar de novo e de novo que eu não tenho mais força ou vontade de seguir em frente. Eu só queria ficar em paz, esquecer. Esquecer muita coisa mesmo. Esquecer toda aquela merda de família, e esquecer tudo o que eu já ouvi com a falta de sensibilidade das pessoas, e tudo que é capaz de acontecer no mundo, que é uma grande agressão pra mim! O mundo é um lugar hostil demais pra eu viver nele! Eu não tinha que estar passando por isso, porque minhas defesas não me preparam pra todos os golpes que eu recebo todo dia, e todo dia, e de novo, de novo, e de novo... Eu sempre falo que sou dura, e aguento o que vier, mas não sei. Talvez eu esteja amolecendo e cansando mais e mais.
Uma vez meu amigo Fogueirinha me falou que eu sentia tudo o que estava no mundo. Minha misantropia não me afasta dos sentimentos que eu tenho em relação a um mundo que eu não consigo entender, não consigo lidar, das pessoas com quem eu não consigo conviver e conversar. Não me protege dos golpes que eu recebo de cada coisa que eu vejo, e de cada palavra agressiva que me dizem, mas eu continuo sorrindo e fingindo que está tudo bem, porque eu sou forte e aguento. Mas agora parece que não aguento tão bem.
Eu não sei o que fazer, e não tenho onde me escorar, e de fato, sendo realista, estou cansada dessa frustração e insatisfação eterna. Cansada da falta de opção que minha cabeça me dá como escape de tudo o que eu não entendo, e minhas opções estão acabando. Antes parece que existia um mundo vasto onde eu podia me esconder e estar segura, bem aqui dentro, e era só escapar pra lá e tudo voltaria a ficar no seu lugar, mas agora eu percebo que ter escapado tanto e tantas vezes me tirou o foco do real, e que vida real sobrevive sem realidade?
Só que agora é tarde. Tarde pra perceber isso tudo, e tarde pra consertar tudo o que está tão errado. E tarde pra disposição e paciência. E tarde pra parar de sorrir e dizer que está tudo bem.