02 março 2011

Nesse final de semana que passou minha irmã veio pra cá. Sempre bom ver o restante da minha família, claro. O caso é que catei minha irmã de canto e fiz mil perguntas sobre a minha infância. Como foi, como eu era, pra ter certeza de que as coisas eram realmente do jeito que eu pensava que eram. E com grande surpresa descobri que talvez não fossem assim daquele jeito. Talvez fossem muito piores.
Eu sempre digo que perdoei minha mãe e tals, por todas as coisas que ela me fez, e é verdade. Eu não tenho mágoas disso, depois de um longo e amargo caminho até chegar ao perdão. Mas com surpresa me descobri ouvindo minha irmã dizendo que não, não perdoou e nao pretende perdoar nem a ela nem ao meu pai. Isso sim é bizarro! Na minha cabeça, minha irmã era uma espécie de extenção da minha mãe. As duas agiam juntas, e tinham os mesmos pensamentos. Era como se fossem quase uma coisa só, e com surpresa percebi que minha irmã sofreu tanto, ou mais que eu. Cada uma teve sua experiência pessoal do que era viver naquele apartamentinho com aquela familia. Minha irmã falou coisas que me fizeram me orgulhar de mim mesma, pois com razão ela me disse que somos hoje do jeito que somos, por nossos próprios méritos, porque muito pouco foi passado pra gente ao longo do nosso crescimento. Eu não sei se concordo totalmente, pois vejo muito da minha mãe em mim, mas mesmo assim me senti bem.
Minha infância sempre foi uma espécie de incógnita pra mim, e eu sempre achei que todas as famílias tivessem uma espécie de vida misteriosa que só acontecia quando ninguem mais estava por perto, assim como era na minha casa. Eu me lembro que vivia apavorada com a possibilidade de me confundir e falar algum "segredo" de família pra alguem que não pudesse saber, e até mesmo com o fato de não ter muita certeza do que era de fato um segredo, do que não era! Era uma tensão absurda o tempo todo, e um puta medo de dar uma mancada que desencadearia a raiva da minha mãe. E acreditem, a raiva da minha mãe podia ser absurda, ainda mais pra uma criança.
Eu contei coisas pra minha irmã que eu acho que nunca tinha falado antes, e juro, ela nem ficou surpresa, porque dentro daquela casa tudo podia ser considerado normal, dentro daquela puta loucura que era.
Eu sempre me perguntei porque minha mãe tratava a gente daquele jeito, principalmente porque ela era muito muito sozinha, e nós poderíamos ser as melhores amigas dela pra sempre. BFF. No entanto ela nunca nos quis como amigas. Ela se sentia superior demais, eu acho. Nós não eramos boas o suficiente pra compartilharmos seu círculo pessoal. Nós éramos inferiores.
Minha mãe ensinou muito pouco das coisas práticas do dia a dia pra mim... Muitas coisas muito simples eu descobri ao longo do tempo, ou com pessoas, ou lendo, ou mesmo sozinha, ou simplesmente observando os outros. Minha irmã me falou que uma tia nossa nos chamava de crianças de estufa... Simbólico não?
Um pouco triste na verdade... A infância se foi, não vai ser recuperada. A maioria das coisas perdidas já ficaram pra trás, e muito pouco do que ainda vem talvez realmente valha a pena, e no entanto é só isso mesmo que temos pra agarrar e fazer valer. Ainda bem que minha irmã tem seus filhos e sua família, que claro, fazem a vida dela valer muito... ^^

Um comentário:

Unknown disse...

No fim fofuxa,você superou tudo e é uma mulher forte e vencedora!!