11 junho 2006

Desde nova eu já era bem estranhinha... Lembro como se fosse hj de minha amantissima mãe me olhando com aqueles olhos que dizem? Ai meu Deus, o que foi que eu coloquei no mundo??
Ela não tinha culpa, coitada... Filha de um "caixeiro-viajante", ou quase isso, que ja tinha sido dono de terras, e de uma dona de casa ligeiramente agressiva, que perderam tudo por causa da bebida, já viu como era a vida né? Eu não sei bem como alguem pode perder tudo o que tem bebendo, mas meu avô tanbto fez que perdeu, e eles viveram na penúria um bom tempo...
Historias como essa acontecem aos milhares, e sempre com os nossos pais. Eles nunca tinham sapato pra por no pé, amavam estudar mais do que amavam a própria vida, e escreviam até no papel de pão pra não faltar as aulas... Ah! E pais também são sempre os melhores alunos da sala, mesmo sem ter a moleza que nós temos na vida, com coisas bonitas que eles sempre nos deram, etc, etc, etc.... Se vc tiver um pingo de normalidade dentro de vc, alguma dessas máximas já entrou por um ouvido seu e saiu pelo outro, porque mães e pais são assim mesmo: sofredores e perfeitos....
Bem, mas tendo levado essa vida de total normalidade numa Manaus de quase 80 anos atras, a vida da minha mãe, por mais "da pá virada" que ela fosse, não podia sair tanto assim da normalidade. Temos que lembrar que naquela época, em que não existia internet, e a betty page era o máximo em matéria de feitiche, por mais doida que minha mãe fosse não dava pra sair tanto da normalidade como agora.
Mas eis que tudo muda, ela vem pra cidade grande, se forma, se casa, enfia suas expectativas num casamento que já masceu falido, e, tcharam!, tem duas filhas!!! Deveriamos supor que começou a levar uma vida normal então? Ou melhor, mais normal? Bem, nem tanto...
Dessa linda união saimos eu e minha irmã. E bem, na verdade, estou escrevendo isso tudo pra falar de mim mesma, então, vamos ao que interessa....
Imagine só. Ela, esposa, mãe, trabalhadora, violenta, de repente, se ve as voltas com uma criança, digamos, no mínimo, estranha.... Com manias estranhas, com vontades estranhas, timida demais, e extremamente antisocial! Claro que ela pirou coitada... Por essa nem ela esperava.
Muitas vezes na infância achei que se eu tivesse tentáculos as coisas seriam mais fáceis, mas tentáculos não caem do céu, então, com dois bracinhos mesmo, lá fui eu enfrentar um mundo estranho, hostil, entediante, e potencialmente violento, ainda mais com uma familia como essa....
Bem, nem falei de meu pai! Ele era só o cara que estava lá. Nada a dizer sobre ele influenciando minha criação.
O negócio era minha mãe, e essa criança estranha que ela criava. Quando eu era pequena, uma vez li A Profecia, e achei que aquilo podia ser comigo, e começei a procurar em mim mesma sinais da minha ascendência maligna! Mas seria fácil demais... Eu tinha que enfrentar era a minha familia mesmo... Ser filha do capeta era bolinho perto deles!
E lá fui eu, crescendo em intenso sofrimento, e dando minhas opiniões abalizadas sobre a vida, o mundo, religião. Quando minha mãe não conseguia, ou não estava com saco de resolver nossa pendengas no papo, ela pegava o pedaço de pau que catava periodicamente na feira, e sentava ele nos nossos lombos. Se eu tivesse aproveitado aquelas duras, porem lindas lições de amor maternal, teria enfiado minha viola no saco, e hoje estaria casada e com filhos. Mas não. Eu era a voz da resistência naquela casa!!! E minha irmã pode acreditar agora, se quiser. Ser a voz da resistência não era nada fácil... Até hoje minha irmã Márcia, que aliás é a única que eu tenho, diz que o mundo não está preparado para as minhas opiniões. Eu tentava ficar calada, guardar pra mim mesma o que eu pensava, mas quando ia ver, lá estava eu, falando o que não devia, recebendo o olhar horrorizado de todo mundo, inclusive de minha própria máe, e me arrependendo profundamente por não ter fechado o bico. A vida é assim... Fazer o que? Eu era a criança que queria levar livros pras festas... Dá pra acreditar?
Bem, eu cresci, sobrevivi, aprendi muito sobre vida em sociedade, apesar de nem sempre conseguir usar isso tudo pra nada. Hoje, pra me recuperar de não ser a criança da profecia, faço análise, e minha psicóloga me diz coisas do tipo: Uma hora você vai ter que ficar adulta, vai ter que trabalhar seus medos e sua opinião de si mesma. Essa última principalmente por causa das pérolas que minha mãe costumava me dizer, carinhosamente, como prêmio pelo meu comportamento, digamos... excepcional! Coisas como: Você nunca vai ter um amigo, você não vale nada, você não presta, e a pérola máxima, você é ruim igual o seu pai!
Bem que eu tento agora, mas minha mãe era uma formadora de opinião incrivelmente poderosa.... Com crianças de 6 a 10 anos, então, ela era espetacular! Até ela morrer, acreditei em tudo o que ela me disse, e depois que ela morreu também.
Mãe é mãe, como eu vou dizer que ela estava errada? Ainda bem que apesar de esquisitinha eu tinha um certo carisma pessoal, eu acho, ou muita sorte, vai saber...
Porque eu escrevi isso tudo??? Bem... Eu mesma não sei. Acho que é pra tentar explicar que as vezes eu saio atropelando tudo e todos, e nem eu mesmo entendo porque. A voz da resistência não pode se calar!!! As vezes eu quero mais do que posso ter, e as vezes eu entendo menos do que deveria, e no meio disso tudo, me perco e fico sem entender nada mesmo, e tudo vira uma confusão na minha cabeça... Aliás, confusa eu estou sempre, mas tem umas horas em que meu cerebro entra em pane. Então, quando meu comportamento ficar estranho, e eu me tornar uma psicotica violenta, ou quase isso, o motivo já foi dito, o que, claro não é uma desculpa.
A culpa de tudo é da minha mãe? Não. ela só reagia a vida, da maneira que dava, e ela era de uma inocência as vezes.... A culpa é minha mesma, se é que pode ser atribuida alguma culpa a alguém (juro que esta será a única tentativa de tirar o meu da reta...). Eu tenho que aprender, antes de tudo, a usar o cérebro...
Isso que dá não ser personagem principal da profecia.... A vida as vezes maltrata...

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